sábado, 1 de novembro de 2008
C - Carta de Tremelique ao Pe. José Paulino
Vila de Jurumenha, 9 de março de 1849
Ilmo. e Revmo. Pe José Paulino de Rego Leite
Depois de saudar V. S., apetecer-lhe vigorosa saúde e dar-lhe os devidos parabéns pelo seu novo estado sacerdotal que acaba de conseguir, dando assim infinitos gostos ao seu bom pai que o soube criar; tenho a dizer-lhe que, dentre tantos membros de que é composta a sua família, só a V. Revma. me dirijo, pela vez primeira, a fim de interceder-lhe para envidar o seu valimento junto ao senhor seu pai e tios, para que, se esquecendo do passado, me restituírem a minha consorte de que há nove anos vivo apartado involuntariamente com a maior das injustiças. Espero que V. Revma. que tendo bebido a sapiência no Seminário de Olinda, onde recebeu ordem sacra, está por isso habilitado a julgar tão importante negócio. Não quero dizer que sou inteligente nem virtuoso, para com estas frases gozar de sua atenção, e obter o favor pedido; mas confesso-lhe que já não sou o homem de outrora, porque no curto espaço de três anos que deixei o País natal, vi muitas terras, corri paises imensos, viajei por terras dilatadas, atravessei abismos não conhecidos, desci aos infernos, subi aos céus e tendo assim vagada pelos incomensuráveis rigores que começam com o tempo e se acabam por esconderem na eternidade. Quantas cousas aprendi que ignorava; quantas trevas que me tinha a alma cega se desvaneceram; quantas ilusões do meu sentido se decifraram e quantas novas verdades conheci! Ora, afigura-se-me achar-me como um homem que depois de ter passado largo tempo da vida em uma cova escura aonde não penetrava luz alguma, saísse de repente a ver o sol. Por isso se eu achasse reunidos todos os meus escritos anteriores, os compraria, bem caro para entregá-os a lume. Espero em V. Revma., que tendo cingido o hábito de S. Pedro, sendo amado e respeitado de tôda sua família, que dela tudo pode conseguir e acabar de um só golpe caso tão pesado, qual sejam os males que há nove anos sôfro, estou certo de que se isto praticar, jamais lhe virá arrependimento algum. Quando, porém, queira resistir às minhas súplicas faça o bem que lhe exijo pelo amor da verdade, inclusive a Deus V. Revma. Se em mim descobrir alguns préstimos, pode dispor em qualquer quadra da vida. E visto que me assino desde já,
De V. Revma.
Amigo, patrício fiel e grato
Bento Cavalcanti de Albuquerque Maranhão.
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